A Ilha Grande, localizada na costa verde do estado do Rio de Janeiro, é conhecida como um paraíso turístico com praias exuberantes, trilhas fascinantes e uma rica biodiversidade.
No entanto, essa ilha paradisíaca guarda um passado sombrio e intrigante, marcado pela existência de um presídio que durante décadas foi palco de histórias de sofrimento, resistência e transformação.
A história do presídio na Ilha Grande é um capítulo significativo na trajetória da justiça penal brasileira e reflete as complexidades sociais e políticas do país ao longo do século XX.
O início de tudo: 1884
Em 1884, com o país sob o comando do imperador Pedro II, foi estabelecido na ilha o Lazareto, uma espécie de triagem onde todos os navios com bandeira estrangeira, que seguiam para o Rio, deveriam parar e fazer descer os portadores de doenças contagiosas.
Um dos parâmetros para a divisão dos doentes era a classe social: os mais pobres ficavam junto à baía. Os mais abastados eram abrigados em outros prédios. Em um período da história, o sanitarista Oswaldo Cruz chegou a defender a distribuição dos doentes por classe social. Assim, foi até 1942.
Origens: Da Colônia Penal à Prisão de Segurança Máxima
O presídio de Ilha Grande teve suas origens no final do século XIX, quando foi inaugurada a Colônia Penal Cândido Mendes em 1894.
Inicialmente, a colônia penal tinha como objetivo a reabilitação de criminosos comuns através do trabalho agrícola.
A ilha, com sua relativa isolação e natureza hostil, era vista como um local ideal para abrigar aqueles que a sociedade considerava indesejáveis.
O trabalho forçado era a principal forma de “recuperação” dos presos, que cultivavam terras e construíam suas próprias moradias.
Transformação e Expansão: Décadas de 1930 e 1940
Durante as décadas de 1930 e 1940, o presídio passou por transformações significativas.
Com a ascensão do regime Vargas, a Colônia Penal Cândido Mendes foi ampliada e recebeu novos contingentes de prisioneiros, incluindo presos políticos.
A ilha tornou-se um local de confinamento não apenas para criminosos comuns, mas também para aqueles que se opunham ao regime ditatorial.
Este período marcou o início da reputação sombria da Ilha Grande como um local de repressão e tortura.
A Era dos Presos Políticos e Criminosos Famosos
Nas décadas de 1960 e 1970, durante a ditadura militar que se instalou no Brasil, o presídio de Ilha Grande consolidou-se como uma prisão de segurança máxima.
Muitos presos políticos foram enviados para a ilha, onde enfrentaram condições desumanas e violência.
Entre os detentos famosos da época estava o lendário bandido “Escadinha”, que ganhou notoriedade por sua fuga audaciosa em 1985, usando um helicóptero.
O presídio também foi o lar involuntário de figuras importantes da resistência política, como Graciliano Ramos, que relatou suas experiências em sua obra “Memórias do Cárcere”.
Estas histórias ilustram a brutalidade do sistema penitenciário brasileiro e a luta constante dos prisioneiros por sobrevivência e dignidade.
Chegada dos criminosos: 1969
Em 1969, o cenário da carceragem começou a mudar.
Decreto-lei, número 898, de 29 de setembro de 1969 modifica alguns artigos da Lei de Segurança Nacional (LSN). A partir de então, qualquer pessoa que pratique crimes como assalto, sequestro ou roubo será punida, independente que seu crime tenha ou não intenções políticas.
Isso levou para a Ilha Grande, homicidas, estupradores, assaltantes que nada tinham a ver com a luta contra o regime militar.
No período da ditadura militar de maior tortura nos quartéis, os anos de 1970, os presos políticos começaram a fazer a viagem de barco junto com esses presos comuns.
Falange Vermelha
O criminoso William da Silva Lima, o Professor, chegou à Ilha Grande em 1971. Tinha 28 anos.
Segundo ele, a punição foi determinada pelo então secretário estadual de Justiça, Cotrim Neto, responsável pelas cadeias no Rio, por organizar um jornal com outros detentos: o Nossa Voz.
Foram dois exemplares. O suficiente para que fosse enviado para a Ilha Grande, onde se encontrou com 50 marinheiros que protagonizaram o levante em março de 1964.
Essa organização dos detentos levou ao que foi chamado de Falange da LSN (referência à lei de segurança nacional, pelos quais os presos eram condenados). Pouco depois, foi rebatizada de Falange Vermelha e, em seguida, Comando Vermelho.
Fechamento e Legado: Anos 1990
O presídio de Ilha Grande foi oficialmente fechado em 1994, marcando o fim de um capítulo doloroso na história da ilha.
No entanto, seu legado perdura, tanto na memória dos que sobreviveram às suas atrocidades quanto nas lições que oferece sobre direitos humanos e justiça penal.
Hoje, as ruínas do presídio são um ponto de interesse histórico e cultural, atraindo visitantes que buscam entender melhor esse período obscuro da história brasileira.
Como Chegar e Conhecer o Presídio de Ilha Grande
Se você já está na Ilha Grande, explorar as ruínas do presídio é uma atividade imperdível, oferecendo uma rica experiência histórica e cultural.
Localizado na Praia do Dois Rios, o presídio está a uma distância considerável da Vila do Abraão, o principal vilarejo da ilha, mas o percurso é uma aventura por si só.
Aqui está um guia detalhado para chegar ao presídio e aproveitar ao máximo sua visita:
Como Chegar ao Presídio de Ilha Grande
Trilha da Vila do Abraão para Dois Rios (T14):
A maneira mais popular e recomendada de chegar ao presídio é através da trilha que liga a Vila do Abraão à Praia do Dois Rios.
Essa trilha oferece uma caminhada de aproximadamente 2 a 3 horas (9 km), dependendo do ritmo e das condições físicas dos visitantes. Aqui estão os detalhes do percurso:
- Início da Trilha: A trilha começa na Vila do Abraão. Dirija-se ao início da Estrada Dois Rios, que pode ser facilmente encontrada seguindo as placas indicativas no vilarejo.
- Percurso: A caminhada é moderada a difícil, com algumas subidas e descidas acentuadas. A trilha é bem marcada e passa por trechos de mata atlântica, oferecendo belas vistas e a chance de observar a fauna e flora locais.
- Chegada: Ao chegar na Praia do Dois Rios, você encontrará as ruínas do presídio a uma curta caminhada da praia.
Transporte Alternativo:
Para aqueles que preferem não fazer a trilha a pé, há algumas opções de transporte alternativo:
- Aluguel de Bicicletas: Algumas pousadas e agências de turismo na Vila do Abraão oferecem aluguel de bicicletas. A trilha é ciclável, mas requer bom condicionamento físico devido às subidas íngremes.
- Barcos privados: Em algumas épocas do ano e dependendo das condições climáticas, pode ser possível contratar táxis-barcos que levam até a Praia do Dois Rios. Clique aqui e verifique a disponibilidade e os preços com antecedência.
Visitando o Presídio Cândido Mendes na Praia de Dois Rios
Horário de Funcionamento:
As ruínas do presídio estão abertas ao público durante o dia. É recomendável visitar durante a manhã ou início da tarde para aproveitar a luz do dia e evitar caminhar na trilha ao escurecer.
O Que Levar:
- Roupas e Calçados Confortáveis: Use roupas leves e sapatos confortáveis e apropriados para caminhada.
- Protetor Solar e Repelente: A proteção contra o sol e insetos é essencial.
- Água e Lanches: Leve uma quantidade suficiente de água e alguns lanches para a caminhada.
O Que Esperar:
- Ruínas Históricas: As ruínas do presídio oferecem uma visão impressionante do passado, com paredes e estruturas que testemunharam eventos significativos da história penal brasileira.
- Museu do Cárcere: Uma pequena exposição de objetos e informações sobre a história do presídio e seus presos famosos pode ser encontrada no local.
- Praia de Dois Rios: Aproveite para relaxar na bela praia de Dois Rios após a visita. A praia é tranquila e ideal para um mergulho refrescante.
Praia de Dois Rios na Ilha Grande
Após explorar as fascinantes e históricas ruínas do antigo presídio de Ilha Grande, a Praia de Dois Rios oferece o cenário perfeito para um momento de relaxamento.
Essa praia, com sua extensa faixa de areia branca e águas cristalinas, é um verdadeiro paraíso.
Os dois rios que deságuam nas extremidades da praia criam um ambiente único, ideal para um mergulho refrescante.
Você também pode conhecer a Praia de Dois Rios através do Passeio Super Sul! Clique aqui e saiba mais.
Portanto, a Ilha Grande, com suas belezas naturais exuberantes e sua rica história, oferece aos visitantes uma experiência inesquecível que vai além das praias paradisíacas.
Explorar o presídio de Ilha Grande é uma viagem ao passado que oferece uma compreensão profunda das complexidades da história penal do Brasil.
Planeje bem a sua visita, esteja preparado para uma caminhada desafiadora, mas recompensadora, e aproveite ao máximo essa experiência única.
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